14 de jan. de 2013

  • 14/01 - O Círculo da Alegria


    dConta Bruno Ferrero que, certo dia, um camponês bateu com força na porta de um convento. Quando o irmão porteiro abriu, ele lhe estendeu um magnífico cacho de uvas.
    - Caro irmão porteiro, estas são as mais belas produzidas pelo meu vinhedo. E venho aqui para dá-las de presente.
    - Obrigado! Vou levá-Ias imediatamente ao Abade, que ficará alegre com essa oferta. 
    - Não! Eu as trouxe para você.
    - Para mim ? - o irmão ficou vermelho, porque achava que não merecia tão belo presente da natureza. 
    - Sim! - insistiu o camponês. - Porque sempre que bati na porta, você abriu. Quando precisei de ajuda porque a colheita foi destruída pela seca, você me deu um pedaço de pão e um copo de vinho todos os dias. Eu quero que este cacho de uvas lhe traga um pouco do amor do sol, da beleza da chuva e do milagre de Deus, que o fez nascer tão belo.
    O irmão porteiro colocou o cacho diante de si e passou a manhã inteira a admirá-lo: era realmente lindo. Por causa disso, resolveu entregar o presente ao Abade, que sempre o havia estimulado com palavras de sabedoria. 
    O Abade ficou muito contente com as uvas, mas lembrou-se que havia no convento um irmão que estava doente e pensou: "Vou dar-lhe o cacho. Quem sabe, pode trazer alguma alegria à sua vida".
    E assim fez. Mas as uvas não ficaram muito tempo no quarto do irmão doente, porque este refletiu: "O irmão cozinheiro tem cuidado de mim por tanto tempo, alimentando-me com o que há de melhor. Tenho certeza que se alegrará com isso".
    Quando o irmão cozinheiro apareceu na hora do almoço, trazendo sua refeição, ele entregou-lhe as uvas. 
    - São para você - disse o irmão doente. - Como sempre está em contato com os produtos que a natureza nos oferece, saberá o que fazer com esta obra de Deus.
    O irmão cozinheiro ficou deslumbrado com a beleza do cacho e fez com que o seu ajudante reparasse na perfeição das uvas. Tão perfeitas, pensou ele, que ninguém para apreciá-las melhor do que o irmão sacristão. Como era ele o responsável pela guarda do Santíssimo Sacramento, e muitos no mosteiro o viam como um homem santo, seria capaz de valorizar melhor aquela maravilha da natureza.
    O sacristão, por sua vez, deu as uvas de presente ao noviço mais jovem, de modo que este pudesse entender que a obra de Deus está nos menores detalhes da Criação.
    Quando o noviço o recebeu, o seu coração encheu-se da Glória do Senhor, porque nunca tinha visto um cacho tão lindo. Na mesma hora, lembrou-se da primeira vez que chegara ao mosteiro e da pessoa que lhe tinha aberto a porta. Fora este gesto que lhe permitira estar hoje naquela comunidade de pessoas que sabiam valorizar os milagres.
    Assim, pouco antes do cair da noite, ele levou o cacho de uvas para o irmão porteiro. 
    - Coma e aproveite - disse. ­ Porque você passa a maior parte do tempo aqui sozinho, e estas uvas o farão muito feliz.
    O irmão porteiro entendeu que aquele presente tinha lhe sido realmente destinado, saboreou cada uma das uvas daquele cacho e dormiu feliz.

    Paulo Coelho

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